21 de novembro de 2024
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Setembro Vermelho: mulheres estão expostas a riscos crescentes de doenças cardiovasculares ao longo da vida 

 Setembro Vermelho: mulheres estão expostas a riscos crescentes de doenças cardiovasculares ao longo da vida 

Com o foco na conscientização sobre a saúde cardiovascular, o Setembro Vermelho se une ao Dia Mundial do Coração – comemorado em 29 de setembro – para lembrar a população sobre a importância da prevenção das doenças cardíacas, que representam a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Embora historicamente as doenças cardiovasculares (DCV) sejam vistas como um problema masculino, estudos demonstram, cada vez mais, que as mulheres são igualmente vulneráveis.

Segundo dados de um artigo recente sobre a epidemiologia das DCV, as mulheres estão expostas a riscos crescentes de doenças cardiovasculares ao longo da vida. Antes da menopausa, os hormônios femininos proporcionam uma certa proteção, mas esse cenário muda drasticamente após essa fase. A pesquisa, divulgada pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, revela que, após a menopausa, o risco de DCV nas mulheres aumenta consideravelmente, aproximando-se do índice dos homens.

O estudo aponta que as doenças isquêmicas cardíacas (DIC) e as doenças cerebrovasculares são as principais causas de mortalidade cardiovascular nas mulheres. A prevalência dessas doenças tem aumentado de forma preocupante, especialmente após a menopausa. O levantamento destacou que, entre 1990 e 2019, houve uma redução significativa da prevalência de DCV em homens, mas nas mulheres essa queda foi mais acentuada, com uma redução de 12,8%. No entanto, a mortalidade e a prevalência das DCV nas mulheres voltam a subir após a menopausa, sugerindo que essa fase representa um ponto crítico para a saúde cardíaca feminina.

Fatores de risco específicos das mulheres

De acordo com a Coordenadora do Núcleo de Cardiologia do Hospital Mater Dei Salvador, Dra. Marianna Andrade, a mudança no estilo de vida e as pressões do cotidiano contribuem para o aumento dos casos de DCV em mulheres. “Alguns fatores de risco são comuns aos dois sexos, como o sedentarismo, alimentação inadequada, obesidade, hipertensão arterial e diabetes. Esses fatores são associados a outros específicos de mulheres, como a menopausa precoce, doenças relacionadas a gestação, doenças autoimunes e estresse psicoemocional”, explica a médica. Segundo ela, os problemas cardiovasculares mais comuns são: Doença Arterial Coronariana, levando a angina e infarto do miocárdio; Acidente Vascular Cerebral (AVC); Insuficiência Cardíaca, que é a incapacidade do coração de bombear o sangue de forma eficaz, sendo mais comum em mulheres idosas; e a Hipertensão Arterial.

Além disso, ela destaca que os sintomas das doenças cardíacas podem ser diferentes nas mulheres, frequentemente manifestando-se de forma atípica. “Precisamos orientar que sintomas como náusea, vômito, palidez, sudorese, cansaço, fadiga e palpitações podem ser sinais de uma doença cardíaca. Esses sintomas são atípicos e, muitas vezes, são confundidos com outras condições, como transtornos de ansiedade ou problemas gastrointestinais. Ao perceber esses sinais e sintomas, o paciente deve ser avaliado para descartar o diagnóstico de doenças cardiovasculares”, alerta a cardiologista.

A especialista lembra ainda que a falta de ar pode ser um sinal de insuficiência cardíaca, principalmente quando é relacionada a esforços progressivos, podendo até ser em repouso. A hipertensão e o diabetes, dois dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, também têm maior incidência nas mulheres após a menopausa, muitas vezes sem apresentar sintomas claros. “Palpitações, percepções anormais do batimento cardíaco, podem refletir arritmias cardíacas, e a síncope (desmaio) pode estar associada a situações cardiovasculares graves”, complementa a Dra. Marianna Andrade.

A importância do diagnóstico precoce

Um ponto chave para a melhoria do prognóstico cardiovascular nas mulheres é o diagnóstico precoce. Como explica a Dra. Marianna, o atraso no diagnóstico ainda é um problema, muitas vezes influenciado pela percepção equivocada de que as DCV são “doenças de homens”. Essa visão pode induzir médicos e pacientes a desvalorizarem sintomas e não aplicarem o tratamento adequado. “A ideia de que as DCV são predominantemente masculinas leva à subdiagnóstico e subtratamento nas mulheres. Estudos mostram que menos da metade das mulheres realizam exames de rotina adequados, o que pode atrasar o tratamento e agravar o prognóstico”, destaca.

A campanha do Setembro Vermelho surge justamente para reforçar essa mensagem. É essencial que as mulheres estejam atentas à sua saúde cardíaca, especialmente no pós-menopausa, monitorando fatores como pressão arterial, colesterol e glicemia, além de manter hábitos saudáveis como a prática regular de atividades físicas e uma alimentação equilibrada.

Fatores não tradicionais e o alerta para mulheres jovens

Embora a menopausa seja um divisor de águas na saúde cardiovascular das mulheres, fatores não tradicionais, como diabetes gestacional e doenças inflamatórias autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide, também aumentam o risco. A Dra. Marianna Andrade explica como essas doenças afetam diretamente a saúde cardiovascular das mulheres. “O processo inflamatório sistêmico, característico da atividade dessas doenças, está associados ao desenvolvimento, progressão e instabilidade de placas ateroscleróticas, que levam a ocorrência de infarto do miocárdio, AVC e outras doenças relacionadas. Além disso, alguns tratamentos para esses problemas podem, em longo prazo, aumentar o risco de desenvolvimento de hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, obesidade e as suas consequências cardiovasculares”, explica a especialista.

Além disso, estudos mostram que as mulheres jovens estão cada vez mais expostas ao infarto, especialmente aquelas com maior carga de comorbidades, como obesidade e hipertensão. Entre 1995 e 2014, um estudo americano de vigilância da aterosclerose mostrou que, enquanto a taxa de internações por infarto caiu entre homens jovens, ela subiu entre as mulheres da mesma faixa etária. Esses dados reforçam a necessidade de atenção às mulheres mais jovens, que muitas vezes não recebem o tratamento adequado ou têm seu diagnóstico tardio.

A médica enfatiza ainda a correlação entre a saúde mental e as doenças DCV. “Transtornos de ansiedade e depressão, mais frequentes em mulheres, estão associados a um maior risco dessas doenças, devido ao mecanismo de inflamação crônica e aumento da pressão arterial, frequência cardíaca, dentre outros. Por outro lado, o diagnóstico de doenças cardíacas pode provocar estresse, ansiedade e depressão, afetando ainda mais a saúde mental do paciente. Portanto, essa interconexão destaca a importância de uma abordagem integrada para o cuidado da saúde física e mental”, finaliza Marianna.

redação

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